ROLLING STONE (08.06.2023) – A estrela da nova série do Peacock fala sobre suas acrobacias de direção por um shopping, lutar contra um palhaço assassino, e a expansão no clássico da PlayStation.

Costumava-se dizer que a “Sega fazia o que a Nintendo não”, mas na realidade, era a PlayStation da Sony que conquistou a reputação de maiores e mais maduros jogos que as crianças dos anos 90 queriam. Um desses jogos era Twisted Metal.

Co-criado por David Jaffe e lançado pela Sony Computer Entertainment, Twisted Metal era centrado ao redor de demolição e caos veicular, no qual os jogadores podiam ser diferentes motoristas – cada um com seu próprio truque e definida origem – viajando pelo globo em um torneio da morte. O objetivo? Sobreviver a carnificina e ter o seu maior e mais profundo desejo magicamente atendido pelo dono do torneio suspeito, Calypso. 

Um verdadeiro produto dos anos 90, Twisted Metal era igualmente brincalhão e sinistro, se comprometendo com os excessos irônicos da era em design e estética. Todo personagem parece um rejeitado diabo de um vídeo de Rob Zombie – até que o próprio Rob Zombie eventualmente se juntou ao elenco no quarto jogo – e suas histórias geralmente terminam com a pata de um macaco mórbido torcendo o desejo de seu coração.

De algumas formas, é difícil ver porque essa propriedade específica seria a próxima nas adaptações da PlayStation Productions, mas faz sentido já que seu time criativo consiste em Michael Jonathan Smith (Cobra Kai) e a dupla de roteiristas Rhett Reese e Paul Wernick (Deadpool, Zombieland). Também tem um Vingador como seu protagonista.

Anthony Mackie, antigamente o Falcão, mas agora vestindo as estrelas e as listras no filme do ano que vem, Captain America: Brave New World, é o produtor executivo e a estrela da adaptação de Twisted Metal, que estreia no dia 27 de julho no Peacock (nos EUA). Vendida como uma comédia de ação de meia hora com uma mordida, ela busca ser diferente das adaptações de videogame voltadas para filmes de blockbuster infantis e, de alguma forma, dramas de prestígio. 

A Rolling Stone se sentou para uma entrevista exclusiva com a estrela Anthony Mackie para discutir enfrentar um palhaço assassino, as músicas essenciais de uma playlist dos anos 90, e por que é hora das crianças jogarem jogos diferentes de “toda essa merda de ‘Minecraft’”. 

Como você se envolveu com Twisted Metal?

Eu estava procurando por algo diferente; estava procurando por algo com mais comédia. Meio que surgiu na sorte porque o grupo original que montou o projeto me trouxe para fazer parte. Quando eu li o piloto, eu era um grande fã de MJ [Michael Jonathan Smith], que era o showrunner, e também fez Cobra Kai, porque eu amo essa série. E quando ele me disse quais episódios tinha feito, eu fiquei tipo, “Ah, uau, essa série é muito divertida.”

Com Cobra Kai, MJ trabalhou muito com a nostalgia, que tem muito a ver com Twisted Metal – especificamente a nostalgia dos anos 90. Como isso foi feito na série desde o começo? 

Foi divertido, cara! Você sabe, os anos 90 foram uma década incrível. Se você olhar para o R&B, hip-hop, rock, até o punk. Eu sinto que os anos 90 foram o auge da música da nossa geração meio como Motown foi o auge da música da geração dos nossos pais. As pessoas podiam ser divertidas e engraçadas e fazer graça com elas mesmas nos anos 90. Nós tomamos a liberdade artística disso e fomos o mais longe que podíamos.

Você trabalhou muito com os produtores executivos Rhett Reese e Paul Wernick (famosos por Deadpool?

Sim, porque eu era um produtor na série. Fizemos muitas ligações juntos e muitas leituras e muitas anotações e passamos muito tempo juntos. E esses caras, os dois, quando eu soube que eles faziam parte… você geralmente não tem a oportunidade de trabalhar com roteiristas assim. Então, foi divertido. Foi divertido jogar ideias. A coisa sobre a comédia, é que você apenas joga pra fora todas as ideias ruins. E é quando você talvez tenha uma que é ouro. Então, eu pude e fui permitido que fosse o mais besta e idiota como geralmente sou, e todo mundo ou deu risada ou disse não. 

Embora seja muito engraçado nos filmes dos Vingadores, você raramente faz comédia. Por que você estava procurando por essa oportunidade? 

Eu sinto que o contexto e as pessoas que estavam trabalhando nesse, foi tudo meio que a tempestade perfeita. Se você sentar e contar a alguém, “Bem, temos os roteiristas de Deadpool, e temos isso e temos aquilo,” não pode ficar muito melhor que isso. Se tornou algo que… Eu não sei, acho que porque sou uma figura mais “intimidadora”, a maior parte das pessoas não me vê como “o cara engraçado” ou um “cara feliz e sortudo”, ou um cara que gosta de contar piadas. É um mundo difícil de entrar a não ser que você está contando piadas pastelão. Foi interessante ser não apenas doutrinado nesse mundo, mas aceito nele.

Falando de figuras intimidadoras, como foi trabalhar com o wrestler Samoa Joe como o mascote da série Sweet Tooth, o palhaço assassino?

Eu sou fã de Samoa Joe há algum tempo, apenas pelo wrestling, e ele é um cara muito legal. Ele é um daqueles caras que ele é tão gigante que ele tem que ser legal, porque ninguém está tentando tentar ele. Ele te quebraria ao meio. Ele não tem nenhum predador natural. Então, ele é apenas um cara legal. 

É engraçado porque tivemos algumas brigas, algumas cenas de luta na série, e eu preciso dizer, fiquei impressionado com ele, especificamente sua habilidade… foi quase como commedia dell’arte o assistir, porque seu rosto estava coberto, e era tudo gestos corporais e coisas assim. Foi muito, muito impressionante, o trabalho que ele conseguiu fazer e o jeito que ele trouxe o personagem a vida. É engraçado ver alguém que – como [Dave] Bautista fez em Guardians of the Galaxy – quando você tira a identidade de alguém, de uma vez, isso o liberta para ser quem quer que seja que aquele personagem é. E Samoa abraçou isso 100% e fez o Sweet Tooth, eu acredito, um favorito do público dessa série. 

Como é olhar para aquela máscara em uma cena?

Era o primeiro dia no set. Eu precisei me segurar. Eu entrei, e eles estão vestindo seu figurino e sua máscara. A cena em que estávamos… a cena dele em Las Vegas, Las Vegas depois do apocalipse, e apenas o ver com aquele fundo e aquela realidade foi muito chocante. E, por mais que ele estivesse atuando, eu não sei se ele estava me batendo apenas porque eu estava nos Vingadores. Eu não sei o que era, mas ele não estava segurando seus socos, me jogando por aí como um saco de batatas. Mas foi divertido! Eu posso dizer que apanhei do Samoa Joe e sobrevivi para contar. 

Seu personagem se chama John Doe, mas ele não é dos jogos. Quem é ele?

Sim, John é um “cara do leite”, indo de cidade a cidade pegando e deixando pacotes. Ele é solitário. Isso é a grande coisa – eu amava Twisted Metal quando era mais novo – Eu tinha o jogo e o jogava. Eu não era bom no jogo, porque o original era basicamente um carrinho bate bate. Era basicamente carros atirando uns nos outros e explodindo uns aos outros com personagens não descritivos, mas eram personagens mesmo assim, que nunca podíamos ver. E o que fizemos foi pegar essa realidade e dar uma história de fundo e personagens que você pode se relacionar em um sentido televisivo. 

John Doe começa como um cara do leite sem descrição, apenas um cara com muito talento e sabor, um cara que se adaptou ao mundo em que vive, e que desenvolveu a habilidade de navegar esse mundo com sucesso. E por causa disso, você realmente começa a conhecer e gostar dele, porque assim como o mundo é simples, ele é um ser humano bem simples. Não há exageros ou extremos ao redor dele. A simplicidade do mundo agora faz parte da simplicidade da natureza de John como um indivíduo. 

Desde o piloto, a série se inclina para o ridículo. Isso tinha alguma lógica interna para tudo ou foi mais tipo, “foda-se, isso é o que é”?

Não, não, não, não, tinha uma lógica interna extrema. Isso foi grande parte das conversas, como produtores, falamos sobre isso. MJ liderou muito disso, mantendo aquela bíblia e mantendo a verdade de cada personagem, e o que aqueles personagens significavam. 

Me conte sobre outros personagens, como a Quiet [Stephanie Beatriz]. 

Ela tem um grande papel no mundo em que estamos, mas o nome dela também tem um papel importante na personagem. Tem uma razão para ela se chamar Quiet. Como você vê no trailer, eu digo, “Ela não fala muito”, e ela diz “Vai se fuder”, e eu fico tipo, “Está bem, acho que ela fala sim.” Foi muito bem construído e feito de forma inteligente, mas o mundo é detalhado de forma que todo nome e todo personagem tem seu lugar. Se torna um mundo tridimensional em vez de um videogame unidimensional. 

Quanto da produção foi feita com efeitos práticos? Tem uma sequência em que você literalmente dirige por um shopping… 

Eu posso honestamente dizer, eu sou um dos únicos atores vivos que dirigiu um carro por um shopping. Foi divertido, cara. Muitos dos aspectos dessa série foram práticos. Tínhamos uma cena no shopping, então procuramos um shopping fechado e corremos para ele. Foi ótimo porque filmamos em Nova Orleans. Tinham vários lugares e espaços que pareciam pós-apocalípticos que pudemos utilizar e identificar como nossos locais. E então tínhamos o luxo de ter tantos lugares diferentes para filmar. Mas muitas coisas foram filmadas de forma prática e o que for que precisássemos era colocado como CGI. Não tínhamos uma metralhadora de verdade, mas tudo ao redor da metralhadora é de verdade. 

Você tinha alguma experiência prévia com direção acrobática? 

Eu fiz um pouco com os caras que estavam trabalhando nos carros, mas a maior parte é colocar um capacete e ver o quão longe você chega antes de bater e destruir. 

Espera, você destruiu?

Não. Felizmente, nós tínhamos um time muito bom. E tínhamos um belo grupo de caras que construíram carros muito fortes, carros que realmente aguentavam algumas batidas. Por causa disso, estávamos bem seguros. Você tem tanta gente que não está acostumada a dirigir assim, e consegue jogar o carro na vaga de estacionamento e fazer drift nas esquinas e coisas assim. Eu fui ao meu instrutor de direção e disse, “Isso são coisas que quero aprender… eu quero passar mais tempo na pista do que no set.” Então, muitas dessas coisas eu pude praticar e aprender e comprei um carro pequeno ruim e coloquei ele na pista e bati nas paredes até ter uma boa noção do que eu estava fazendo. 

No mundo de ‘Twisted Metal’, que tipo de carro você gostaria de dirigir?

Eu diria que você precisa de algo grande, e precisa de algo que aguenta algumas batidas. Eu diria que um Hummer é a escolha óbvia. Eu acho que algo que tenha algum peso que poderia realmente colocar algum equipamento te daria uma chance de sobreviver. Eu diria um Eldorado Cadillac ‘76, algo assim. Tipo um Lincoln de 1970… um Lincoln Continental 1975 com 4 portas? 

Com séries assim, e coisas como The Last of Us e o filme do Super Mario, tem esse sentimento de uma renascença de videogame em Hollywood. Por que você acha que isso está acontecendo?

Eu acho, porque a nossa geração – eu não sei a sua idade – minha geração cresceu com videogames. Essa era a nossa coisa. Era nosso escape. Agora somos velhos [ri]. Esses videogames tem valor sentimental para nós. Então, ver eles virarem realidade, ver eles sendo adaptados e ter a oportunidade de uma segunda chance é bem legal. É divertido. Podemos engajar de novo e reconectar com esses personagens, mas também engajar e conectar com uma nova geração desses personagens. Eu mal posso esperar para meus filhos assistirem Twisted Metal para que eu possa lhes mostrar o jogo que cresci jogando, com toda essa merda de ‘Minecraft’ e tudo isso. Eu quero que eles vejam o tipo de jogo que cresci jogando. Você sabe, eu não joguei ‘construa uma caixa’ quando era mais novo. 

Twisted Metal foi uma escolha surpreendente para uma adaptação. Não tem um novo jogo na série desde 2012. Se isso levasse a um renascimento, você iria querer fazer parte desse jogo também?

É claro que sim. Quero dizer, a coisa boa da série e como constrói o jogo é que agora você tem uma história, e agora você tem um marcador de identificação em todos os personagens, então é legal porque você pode jogar o jogo agora e sabe exatamente como eles se encaixam no jogo. Ao contrário de antes, que não era um jogo muito dirigido pelos personagens, você pode realmente se aprofundar nos personagens agora e jogar com esse mundo e ter missões específicas que você tem que fazer como o cara do leite. É meio que a evolução de um jogo, eu sinto que lhe dá uma segunda vida perfeita. 

A série tem muitas músicas dos anos 90. Elas foram adicionadas depois ou eram as que tocavam no set?

Elas foram adicionadas depois. Todos tínhamos nossas favoritas, e todo mundo fez uma lista e todo mundo se lembrou dos bons tempos daquelas músicas. Todas as músicas entraram depois. Mas eu vou dizer agora que se fôssemos montar um disco – eu nem sei se eles ainda fazem CDs – se fizéssemos uma soundtrack de quatro CDs de todas as músicas que juntamos para votar? Essa seria uma soundtrack incrível. 

Falando das crianças novamente, quais seriam as músicas essenciais que eles deveriam escutar dos anos 90?

Eu teria que dizer uma das minhas músicas favoritas quando era mais novo – e eu na verdade ainda tenho o CD – De La Soul fez uma música chamada ‘Ego Trippin’. Um clássico. Não se pode vencê-la. Eric B. & Rakim têm uma música chamada ‘Microphone Fiend’, e a expressão artística e lírica dessa música é algo com o que não se pode competir. A maneira com que ele descreveu seu vício com música e como isso performa em sua vida e como ele é literalmente o hip-hop é incrível. E a ‘Macarena’ para uma medida segura. 

Você precisa ter uma rede de segurança.

Você precisa ter uma rede de segurança! Essa é minha uma música que não entrou para a série, foi ‘Macarena’. Eu fiquei tipo, “Todo mundo fez a Macarena. Qual é!” Você tem que ter Vanilla Ice. Você tem que ter Salt-N-Pepa. E você tem que ter ‘Macarena’. 

Os jogos originais de Twisted Metal são sobre os motoristas competindo em uma luta pela vida para uma chance de ter seu maior desejo realizado. Vamos dizer que você ganhou. Qual seria o seu desejo? 

Qual seria meu desejo se eu ganhasse o Twisted Metal? Essa é uma ótima pergunta. Num nível superficial, meu desejo seria de que eu pudesse encontrar meu carro dos sonhos porque sinto que Twisted Metal é todo sobre carros e o que você está dirigindo. Você está usando os carros para te manter vivo. Então, eu sempre quis um conversível Lincoln Continental 1967. E você sabe, ‘Entourage’ saiu e destruiu meu sonho, mas eu sempre quis aquele carro. Esse seria o meu desejo, se eu pudesse encontrar um Fastback Shelby Mustang ‘68 ou um Lincoln Continental de… vamos dizer 67. Esse seria meu desejo.

Ou, você sabe, a grande coisa, se eu tivesse a oportunidade: mudar para o Caribe e nunca mais ser visto.

Entrevista original em inglês.