FATHERLY (29.07.2020) – O astro da Marvel fala sobre o Vidas Negras Importam e porque ele tentou fazer com que sua co-estrela Sebastian Stan morasse com ele.

Durante o ensino fundamental em Louisiana, Anthony Mackie – quem você conhece como o primeiro Capitão América Negro – concorreu a presidente do corpo estudantil. Para servir como seu próprio ‘hype man’ ele juntou muito doce para melhorar toda a votação. “Eu fiquei a noite inteira fazendo esses panfletos de ‘Vote no Anthony’ com pirulitos. Eu distribuí centenas de pirulitos. É isso que você tem que fazer,” ele diz.

Ele ganhou? “É claro que não! Quando eu estava distribuindo pirulitos, a pessoa que estava concorrendo comigo estava dando balas, pirulitos e doces. Eu não tinha o suficiente. Esse foi meu maior problema. Foi uma lição valiosa.” 

Agora, o graduando de Juilliard e pai de quatro está, com seu próprio linguajar, colocando seu dinheiro onde sua boca está lançando uma campanha impulsionando homens pretos a se registrarem para votar. Com menos de 100 dias até a eleição, Mackie não está focado apenas em retirar Trump da Casa Branca, mas na premissa de que toda política é local. “A eleição presidencial é como ir ao baile de formatura. Você pode fazer mais votando localmente. Se você não está feliz com o jeito que seu promotor lida com as coisas, se você não está feliz com seu xerife, retire eles pelo voto. Nós queremos voltar a deixar as pessoas animadas ao votar,” ele diz.

Recentemente, Mackie falou com a Fatherly sobre deixar as crianças animadas sobre o processo político, o que ele mais gosta sobre a paternidade, seu relacionamento com sua co-estrela de O Falcão e o Soldado Invernal, Sebastian Stan, e porque se sentiu tão “humilde” ao segurar o lendário escudo da Marvel.

Você está em Nova Orleans, certo? Como está tudo por aí?

Sim, estou. Na verdade está ótimo. Está bem quieto. As pessoas estão levando isso aos poucos, ficando em casa.

Sua Campanha “I am a Man” (“Eu Sou um Homem) tem como objetivo registrar homens pretos para votar. O que o inspirou a lançar a iniciativa?

Eu estava falando com um grupo de amigos. Eu percebi que depois do grande incentivo para colocar Obama na presidência, tudo diminuiu. O número de pessoas votando na segunda eleição do Obama caiu drasticamente. Na última eleição [2016], os números foram abismais. Eu estava tentando achar algo que fosse criar interesse. É fácil protestar ou fazer algo quando você tem que utilizar seus dedões. Mas ser um revolucionário ativo, um protestante ativo, você tem que tomar responsabilidade. A resposta tem sido enorme. É uma campanha de registro de eleitores.

Você tem quatro garotos. A paternidade foi o impulso para o seu ativismo?

Definitivamente. Eu sempre estive consciente do mundo que eu queria deixar para os meus filhos. O círculo de amizade dos meus filhos é muito diverso. As escolas dos meus filhos são muito diversas. Mas digamos que eles foram convidados para o aniversário de um de seus colegas, eles ainda são a única criança preta. Isso me incomoda e me frustra. Estamos ensinando às nossas crianças as mesmas inseguranças que fomos ensinados. Eu tento mostrar aos meus filhos que o mundo é seu playground e que eles devem respeitar as pessoas como seres humanos até serem provados do contrário.

Bem devagar as coisas parecem estar caminhando para o melhor.

Se você olhar, as mesmas pessoas que cuspiram na cara de Jackie Robinson, aquelas pessoas ainda estão vivas. As mesmas pessoas, quando integraram as escolas públicas e as pessoas estavam gritando com as crianças, aquelas pessoas ainda estão vivas. O que é ótimo e me faz feliz, é que se você olhar as crianças de hoje em dia, aquele nível de ignorância e agressão direcionado a membros do sexo oposto ou de outra raça, isso é realmente algo que eles aprendem. Estamos realmente na primeira geração de escolas integradas. Eles passam todos os dias com crianças de raças opostas.

Como você mostra as suas crianças a importância de ser ativo em sua comunidade, a importância de votar, quando honestamente, votar não é um tópico sexy.

Meus filhos – nós falamos sobre tudo. Eu os trato com respeito. Sou muito severo com eles. Eu deixo eles saberem que seus direitos e suas decisões têm consequências, boas ou ruins. Quando falo com eles sobre votar, eu digo a eles que nós, as pessoas, temos todo o poder. Nós somos quem muda o que queremos que nossa sociedade seja. Eu tento dar aos meus filhos informação. Meu mais velho tem 11 anos. Ele entende. Ele lê. Eu falo com ele sobre a história de votar, quando pessoas negras, quando mulheres não eram permitidas o voto. 

Eu venho de uma família de mulheres pretas fortes. As mulheres com quem cresci eram o alicerce da nossa família. A mãe dos nossos filhos também é. A ideia de que existia um tempo em que mulheres não podiam votar, para ele isso é loucura. É sobre sua mãe. É sobre suas tias. É sobre suas sobrinhas. Você está votando por elas. Ele não quer que nada aconteça com a mãe dele. A mãe dele é a melhor coisa do mundo. Tudo que vai contra a mãe dele vai contra ele. 

Qual tem sido a parte mais reveladora da paternidade para você?

Eu tenho que dizer a relação que meus garotos tem uns com os outros. É realmente encantadora. Eu chamo meu filho mais velho de Sr. Tudo-Incluso. É o mais importante para ele que você se sinta apreciado e bem-vindo. A parte mais gratificante é ver eles crescerem para serem bons seres humanos, crianças muito legais. Eu digo a eles, apenas não seja um imbecil. O irônico é que nenhum deles me perguntou o que é ser um imbecil. Todos eles estavam tipo ‘entendi’.

Mudando de faixa, como foi receber o escudo do Capitão América?

Foi uma experiência de humildade, simplesmente por causa do meu histórico e de onde vim. É uma experiência de mais humildade ainda considerando onde estamos como um país. A Marvel fez muito na questão de atores em frente às câmeras. Ter o Capitão América passar o escudo para um cara negro. Todo estúdio tem que fazer mais sobre conduzir mais pessoas para os negócios.

Você recentemente colocou a Marvel nos holofotes por não ter pessoas de cor suficiente trabalhando em seus filmes. O que fez com que você falasse sobre?

Vou dizer isso: não acho que o que está acontecendo é um problema de racismo. Eu acho que é um problema de desconhecimento. Com a Marvel, e eu acho que com a maior parte das empresas, eles sentem que estão fazendo o que deviam estar fazendo. De forma alguma é suficiente. Minha grande coisa é, coloque seu dinheiro onde sua boca está. Você não pode colocar um cara negro como um dos seus super-heróis principais e não esperar que ele tenha essa conversa. Está no meu DNA ter essa conversa. É uma grande oportunidade para mim fazer parte do universo da Marvel então é o meu trabalho certificar de que o universo da Marvel seja o melhor que pode. Todo mundo que é grande na nossa indústria, se eles derem uma festa em sua casa, 98% da festa é branca. Se você vai até seu escritório e o escritório é 98% branco, isso reflete sua realidade.

Como você se sente indo a uma reunião e você é a única pessoa preta?

A benção disso é, que posso ir a essas reuniões e dizer, “a próxima vez que eu for a essa reunião, eu não quero ser a única pessoa preta aqui.” Quando eu fiz Altered Carbon, quando eles me fizeram a oferta, eu disse que era muito importante para mim que pelo menos um dos diretores fosse uma mulher e que era muito importante para mim que pelo menos um dos diretores fosse preto.

Como é sua relação com Bucky Barnes, encenado por Sebastian Stan, em O Falcão e o Soldado Invernal?

Sebastian – nós não poderíamos ser mais diferentes um do outro. Somos polos opostos e por causa disso nos damos muito bem. Sebastian é inteligente, ele é cerebral. Meu trabalho todos os dias é tirá-lo da sua própria cabeça. Ele sempre está pensando. Nosso relacionamento é ótimo. Eu sou espontâneo. Ele quer desacelerar e pensar. 

O motivo principal que pergunto é porque eu fiquei impressionada que quando todo mundo com os meios fugiu de Nova York durante a pandemia, ele ficou e se recusou a ir para uma casa na praia chique.

Eu falei com ele. Ele estava me mandando fotos e vídeos. Eu não acredito que ele ficou. Eu disse a ele “Cara, venha para Nova Orleans.” Ele se manteve firme. Ele disse não, ele iria ficar. 

Como você se sente em relação ao futuro, dado ao que está acontecendo nas notícias hoje?

Visto os últimos cinco meses, a mudança que vimos é surpreendente. É uma experiência de humildade. Ocorreu uma passagem do bastão para a geração mais jovem. É lindo de se ver. Eles pegaram essa oportunidade para fazer suas vozes serem ouvidas. Essas são conversas que você precisa ter com seus filhos.