THE DAILY BEAST (27.02.2020) – O ator versátil se abre sobre seu papel de protagonista na segunda temporada da série de ficção científica da Netflix, ‘Altered Carbon’, o futuro do Falcão/Capitão América, e muito mais.

Poucas estrelas trabalhando hoje são tão legais – ou versáteis – como o Anthony Mackie. 

Começando com sua estreia em 8 Mile (2002), o nativo de Louisiana de 41 anos tem se provado um ator cujo alcance é alcançado apenas pelo seu carisma. Seja como um traficante em Half Nelson, um membro da equipe antibomba na Guerra do Iraque em The Hurt Locker, um antigo Pantera Negra em Night Catches Us, ou um marombeiro impotente em Pain & Gain, Mackie está confortável em praticamente qualquer disfarce. E isso nem está contando seu papel de maior destaque até agora: Sam Wilson, também conhecido como Falcão, o confiável compatriota do Capitão América do Chris Evans no Universo Cinematográfico da Marvel, quem (de acordo com Avengers: Endgame) vai em breve levantar o escudo com as listras e as estrelas.

Respostas definitivas para o futuro como super-herói de Mackie não serão reveladas até a série do Disney+, The Falcon and the Winter Soldier. Ele está, no entanto, mais do que disposto a discutir sua atual aventura nas telas menores: Altered Carbon, a série de ficção científica da Netflix (agora em sua segunda temporada) sobre uma realidade distante na qual a consciência humana é armazenada em discos digitais conhecidos como “stacks”, assim permitindo que os humanos vivam para sempre ao serem constantemente instalados em novos corpos conhecidos como “sleeves.” É um conceito no qual a identidade é separada da aparência física, e é a principal razão que Mackie tão facilmente entrou no papel do protagonista Takeshi Kovacs, que foi interpretado por Joel Kinnaman na primeira temporada em 2018.

Situada num planeta lutando com a rebelião anti-imortalidade, a saga vê o Kovacs de Mackie navegando intrigas políticas enquanto procura pelo seu verdadeiro e revolucionário amor, Quellcrist Falconer (Renée Elise Goldsberry), com a ajuda da caçadora de recompensas Trepp (Simone Missick) e seu parceiro holográfico de inteligência artificial Poe (Chris Conner). 

Para Mackie, é um projeto como protagonista que mais uma vez confirma que ele sua presença comanda, não importando o tamanho da tela. Conversamos com o ator sobre assumir o manto patriótico do Capitão América, o apelo de fazer um programa liderado por afro-americanos, a visão progressiva do amanhã de Altered Carbon, e quem ele gostaria de se tornar dado a chance de ter sua própria sleeve. 

Vingadores: Ultimato te estabelece como o próximo Capitão América. Como tem sido a reação para esse bombástico desenvolvimento? 

A resposta tem sido extraordinária. Eu acho que acalmou um pouco agora, mas o filme ainda tem um lugar icônico na nossa geração porque as pessoas foram tão afetadas por ele. Eu estava em Vancouver filmando Altered Carbon quando o filme saiu. Meu dublê, com quem eu trabalho desde sempre, que fez Ultimato e também estava fazendo Altered Carbon, comprou ingressos para quinta-feira à noite na primeira sessão. Nós chegamos lá, é meia-noite, todo mundo está cansado e quieto. Então Tony Stark morre e você escuta as pessoas chorando no cinema. Você nunca espera ter esse efeito nas pessoas. Mas você tem adultos abertamente afetados por esses personagens. Eu acho que diz muito sobre o que Joe e Anthony [Russo] conseguiram fazer como diretores, e o que Robert Downey Jr. fez como ator nos últimos 15 anos. 

Como está indo a produção de The Falcon and the Winter Soldier? E é assustador ter um papel tão vital na próxima fase do UCM? 

Não mesmo. Eu acho que, se vamos falhar, devemos falhar 100%. Não falhe pela metade [ri]. Mas tem sido divertido. Tem tanta coisa acontecendo no Universo da Marvel desde que a Disney se envolveu, e nós temos um time muito apoiador. É Victoria [Alonso] e Louis [D’Esposito] e Kevin [Feige] e todos os outros caras por lá—nós sempre temos pessoas com quem podemos conversar se sentimos que as coisas não estão dando certo. Então tem sido ótimo. Nós definitivamente tropeçamos algumas vezes, mas estamos correndo a todo vapor para deixar essas séries prontas. 

Marvel é conhecida por sua confidencialidade. Você apenas recebe informações num esquema projeto-por-projeto?

Um projeto de cada vez, você talvez não volte! [ri] Não, eles realmente não nos dão o futuro do universo. É realmente um de cada vez. Você não recebe o roteiro até chegar no set. Eles te mandam páginas, mas pessoas aleatórias aparecem e você vai estar tipo “Oh, uau, não sabia que você estava nessa série, e nós estamos fazendo uma cena juntos—isso é incrível!”

Eu vou assumir que você recebeu pelo menos algum treinamento com o escudo?

O engraçado sobre treinamento com o escudo é que eu sinto que todo mundo teve. Eu passei por WandaVision e tinha um escudo aleatório. Eu estava tipo, todo mundo tem treinamento com o escudo agora! 

Talvez esse seja o plano deles para substituir o Chris Evans.

Todo mundo vai ter um escudo com a cara do Chris nele [ri]. 

Ao longo dos últimos anos você fez vários projetos de ficção científica. Tem algum motivo pra você focar nesse gênero agora? 

Eu sempre amei filmes de ficção científica. Eu cresci num tempo de “Homem Demolidor” e “O Exterminador Do Futuro”; esses filmes pós apocalípticos são os filmes com quais eu cresci. Se você pensar sobre, Star Wars é um suspense pós apocalíptico de ficção científica. Então eu amo esses filmes, e eu amo filmes de ação. O cinema é um meio pelo qual as pessoas vão para escapar de sua realidade, e quando eu penso em filmes, eu sinceramente penso nele como entretenimento. E eu quero que as pessoas se sintam entretidas da maneira que eu sinto quando vejo filmes de sci-fi. Eu sempre gostei do gênero, mas eu amo todos os filmes. Agora que estou numa idade em que pareço um adulto, eu posso fazer coisas de adulto e bater nas pessoas [ri]. A cada 10 anos você cai em um novo ciclo de roteiros. Nos próximos 15 anos, estarei fazendo o papel de pais, e então, nos próximos 20 anos, eu estarei fazendo avôs. Você tem que fazer esses ciclos quando eles chegam. 

O conceito de Altered Carbon permite que você entre no papel principal sem muito esforço. Mas por que você quis entrar numa série já estabelecida?

Eu amei a primeira temporada de Altered Carbon e achei que tinha algo que eu poderia adicionar ao que eles estavam tentando fazer com a série. Quando eu recebi a ligação sobre, eu estava muito animado porque eu sabia, quando eu tive a reunião com todo mundo sobre a série, que tinha algo que eu poderia trazer para o personagem que iria adicionar ao que Joel [Kinnaman] fez na primeira temporada. 

O que foi que você achou que poderia adicionar?

Kovacs é um personagem em constante busca pelo seu amor verdadeiro. Essa temporada é bem Shakespeariana de uma forma. Ele está na sua jornada, mas emocionalmente, está esgotado. Aquela vulnerabilidade, aquela emoção— que não estava muito na primeira temporada, você não viu muito isso nos flashbacks com o personagem— e eu senti que conseguiria trazer isso completamente com o jeito que ele foi escrito. Eu tive quatro diretores muito bons nos oito episódios da temporada, e estávamos muito conscientes de onde Kovacs estava emocionalmente. A parte da ação entrou nisso, mas não é tão importante quanto foi na primeira temporada. Essa temporada é realmente sobre ele mentalmente e emocionalmente, como um ator, isso é algo que faço muito bem. 

Altered Carbon é única da forma que é uma ficção científica de grande orçamento com três protagonistas afro-americanos— você, Renée Elise Goldsberry e Simone Missick. Isso também foi parte do apelo? 

Foi. Isso foi algo que falamos sobre, e foi algo que eu estava muito consciente sobre. Eu conheço Simone há muito tempo, o marido dela é um amigo muito querido. E eu conheço Renée já há algum tempo; ela era uma das minhas maiores crush quando eu comecei a fazer peças em Nova Iorque. 

Eu tenho certeza que isso tornou mais fácil a parte romântica da série.

[ri] Exato! Sabendo que eu teria a oportunidade de trabalhar com as duas adicionou combustível ao fogo do que eu achava que poderia fazer com esse personagem. Por elas serem atrizes tão dinâmicas, eu sabia que elas iam me forçar a ir mais forte e mais longe como um ator. 

Você sente que tem um movimento maior em Hollywood para escalar minorias como protagonistas em gêneros como esse, versus quando você começou? 

Não mesmo, e eu acho que isso é um enorme equívoco. Porque é sempre sobre o fluxo e refluxo. Se você olhar para Hollywood quando eu estava crescendo, no final dos anos 80 e início dos 90, nós tínhamos enormes estrelas de ação negras. Nós tínhamos filmes de ação pretos e com enorme orçamento. Da lista de Denzel Washington, Morgan Freeman, Wesley Snipes, até Will Smith, Martin Lawrence, Morris Chestnut, Vivica A. Fox— todas essas pessoas começaram no início dos 90. E sobre a diversidade no cinema, eu sinto que era extremamente diverso nos anos 70 e 80, se você olhar para Bruce Lee e Jackie Chan e todos aqueles atores que trouxeram os filmes de kung fu, e então Ang Lee e todas essas pessoas que vieram para Hollywood e realmente explodiram o teto em termos de diversidade. Agora, o pêndulo balançou de volta para onde não temos a próxima geração dessas pessoas. Nós não temos um Ang Lee de 25 anos. 

Essa série ajuda a causa?

Eu acho que uma série assim torna as pessoas conscientes da falta de produção e conteúdo que temos nessa área; porque se você olha, Walter Mosley é um escritor de sci-fi fenomenal. Existem alguns incríveis escritores de sci-fi afro-americanos, asiáticos e latinos, e esses projetos ainda não foram desenvolvidos. E quando se trata de ficção científica e o futuro pós apocalíptico que todos achamos que vamos viver, raças não importam, porque todo mundo parece porto riquenho! [ri] Vamos todos crescer para ser porto riquenhos, então boa sorte! 

Altered Carbon apresenta uma visão do futuro bem progressiva (multicultural, gênero fluido).

Sim, e isso é o que eu amei sobre a primeira temporada: a ideia de raça e gênero nunca foi uma questão. Uma mulher pode te matar assim como um homem pode te matar, porque com essa série e as capas e chips (stacks), é mais sobre a humanidade da pessoa do que sobre o aspecto físico. Você pode ser o que quiser— se você quer ser uma loira cheia de curvas de 1,80, e você é um cara negro de 1,50, você pode ser a loira! O que eu amo sobre a ideia dessa série é que ela prova que as pessoas não ligam para como você se parece; as pessoas ligam para a pessoa que você é. 

Assim como em The Falcon and the Winter Soldier, você está fazendo um super herói afro-americano (de certa forma) em Altered Carbon. Você sente que isso vem com algum tipo de responsabilidade?

Você não pode pensar sobre isso. Eu sinto que, se eu fizer um bom trabalho, ele será reconhecido. Eu estou fazendo isso há 20 anos agora, e essa é minha primeira vez fazendo televisão. Eu nunca fiz episódios para a televisão antes. A ideia é que, desde que você faça um bom trabalho, as pessoas vão assistir e apreciar. O que você quer é que seu nome seja sinônimo de bom trabalho. E isso é o mesmo com qualquer um, de qualquer raça e qualquer cultura. Eu acho que com isso, apenas adiciona ao pacote de projetos que fiz desde 8 Mile que as pessoas podem olhar pra trás e dizer, uau, é um grupo de projetos bom ao longo de 20 anos 

Se o futuro de Altered Carbon se tornasse real, tem alguma capa em particular que você ia querer usar, pelo menos temporariamente? 

Oh man, é tão engraçado que você tenha dito isso! [ri] OK, tudo bem, eu direi: eu ia querer muito ser Halle Berry.

Por quê?

Porque eu ia querer saber como é ser desejado por todos os humanos da Terra. Eu ia querer saber como é esse poder. Talvez isso seja narcisista, mas eu não ligo. Alguém daquela magnitude, eu acho que ela pode entrar na presidência e dizer eu vou ser a presidente e salvar o mundo e dar educação de qualidade para todas as crianças, e vai acontecer! Eu sinto que ela tem esse poder. 

E se você é Halle Berry, você ainda pode ser um ator sucedido.

Eu quero só o poder! [ri]

Quanto treinamento de luta foi requerido pela série, e isso se tornou mais fácil, devido a sua experiência com a Marvel? 

Eu tenho trabalhado com o mesmo dublê desde Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros. O nome dele é Aaron Toney, e ele é tipo incrível em capoeira, jiu jitsu, muay thai, louco pega-moscas-com-chopsticks. Ele sabe o que sou bom em, e o que não sou bom em. Eu consigo dar um bom soco, ou um bom bloqueio, então ele me deixa fazer isso. Mas os chutes, e algumas piruetas, ele fica tipo “Não, você é péssimo nos chutes.” Com esse tipo de coisa, ele entra no meio. Eu sempre digo, eu sou o Pernalonga e ele o Patolino. Assim que o carro está prestes a cair em cima de mim, eles cortam e colocam ele, e jogam o carro em cima dele. 

Como você disse, essa é sua primeira vez fazendo tv para streaming. Qual foi a motivação para essa transição?

Para ser sincero, os cineastas não trabalham com cinema mais. Se olharmos para o filme que crescemos amando, que achamos que são os melhores filmes de todos os tempos, esses filmes não vão ser feitos por estúdios; eles serão feitos por serviços de streaming. Então se seu filme não é um evento— se você não está em Vingadores, Esquadrão Suicida ou Star Wars— é muito difícil fazer com que as pessoas vão ao cinema, por vários motivos. Fator medo, custo. Eu tenho filhos, e para eu levar meus filhos ao cinema, é $115. Então nós assistimos filmes em casa. Assim que as companhias Fortune 500 compraram todos os estúdios, a ideia do cinema morreu. Dito isso, o único lugar em que você pode trabalhar com os cineastas que adora é nos serviços de streaming. 

Mas eu assumo que isso significa que o streaming oferece oportunidades tremendas? 

Definitivamente. Eu adoraria trabalhar com o diretor David O. Russell um dia, e todos esses diretores de novo. Mas você não pode ir ao estúdio e dizer “Me dê $20milhões, eu quero fazer esse filme pequeno,” porque eles não vão fazer. Ou você faz um filme com $2milhões ou $100milhões. É o pior modelo de negócios de todos os tempos. Definitivamente existe um jeito de ganhar dinheiro com cinema. Mas ninguém no cinema sabe como fazer dinheiro [ri]. É louco.

Se Scorsese não consegue colocar seus filmes num cinema…

Nós estamos olhando para o início de uma nova era. Quando nossos avós costumavam dizer, “Desligue essa música do diabo, ninguém vai escutar isso, vai estar morta em 10 anos,” nós estamos agora na era do rock para o hip-hop. Nós estamos na geração acelerada, onde a geração mais nova está gastando e sendo ouvida, e nós somos os velhos. Somos os que sentam no sofá e reclamam do que os jovens estão fazendo, e os jovens estão lá fora mudando o mundo. 

Mesmo assim, ótimos filmes continuam sendo produzidos.

Ótimos filmes estão sendo feitos, eles apenas não estão sendo feitos para o cinema, porque os jovens não querem sentar em um quarto e relaxar. Eles querem se mexer, e assistir em seus celulares e tablets. Eles não conseguem ficar parados; é um mundo diferente agora. Nós tínhamos tempo, porque não tínhamos celulares. Podíamos sentar num cinema e ficar com uma garota e comer pipoca. Mas os caras não fazem isso mais. Você pode fazer isso virtualmente agora; você não precisa se esconder numa sala de cinema. E se você levar sua garota ao cinema agora, são $20 por ingresso, e ela vai querer pipoca e nachos, então você adiciona dois refrigerantes, e você já perdeu $70 e nem entrou no cinema ainda. Nós costumávamos ir a exibição de um dólar em Nova Orleans e você podia comprar pipoca por $5, refrigerante por $2.50, e você perdeu apenas $10! Então agora você pode pagar $7 [por streaming], ou você vai em dois encontros por mês e isso são $150 apenas para ver um filme. 

Alguma chance de você voltar para a terceira temporada de Altered Carbon? Ou o plano deles é continuar trocando o ator do Takeshi Kovacs? 

Eu não sei quais são os planos para o futuro da série, mas eu direi que tive uma ótima experiência trabalhando nela. Eu sinto que alguns dos atores se tornaram amigos para a vida toda, porque você passa seis meses com as pessoas e desenvolve um relacionamento. Foi quase como se eu estivesse fazendo uma peça— você vai para o set todos os dias, você trabalha com as mesmas pessoas, você passa tempo com e elas e conhece suas famílias, você tem uma semana estendida e viaja com elas. E não só com os atores, mas a equipe também. Se tivesse uma oportunidade, eu adoraria fazer essa série novamente. Foi uma experiência maravilhosa. Eu não tive sequer um dia ruim nesses seis meses que estive lá. Agora, Vancouver foi outra história. Quando eu saía do trabalho, era como o Inferno de Dante.

Você não era fã de Vancouver?

Você quer ver um cara negro no purgatório, o coloque em Vancouver no inverno [ri]. Oh man. A única parte ruim foi Anthony Mackie no sudoeste do Canadá.

Você não tinha sua família com você?

Não, porque as crianças estão na escola e seria absurdamente egoísta de mim tirar eles da escola. É tão longe, você não pode fazer uma viagem de um dia de Nova Orleans para Vancouver. Você não pode realmente dirigir para Seattle porque é Seattle, e você tem que lidar com a fronteira. E você está cercado por gelo. Então o que você faz?

O que você fez?

Sofri! É isso que você faz [ri].