AUGUST MAN (20.04.2021) – Anthony Mackie e Sebastian Stan definem patriotismo, coragem e masculinidade na era de políticas democráticas tempestuosas e consciência com seus personagens em The Falcon and the Winter Soldier’. Nesta entrevista exclusiva descobrimos mais sobre a série do Disney+ diretamente das estrelas e também sobre a relevância dela com o público geral devido a acontecimentos recentes. 

Deve ser dito que, no grande esquema geral das coisas que se desenrolaram nas Três Fases do Universo Cinematográfico da Marvel, a trilogia de filmes do Capitão América se distingue dos outros veteranos dos Vingadores.

Com a evolução de Steve Rogers, de um homem corajoso mas não fisicamente dotado ao exemplar de virtude e masculinidade que é o Capitão, os filmes sempre foram uma reflexão da sócio-políticas dessa era.

Primeiro, o otimismo durante a Segunda Guerra Mundial visto em ‘The First Avenger’. Depois, a eventual desconfiança vinda de fé má colocada em governos durante os eventos de ‘Winter Soldier’.

Finalmente, a completa quebra do contrato social entre o governo e cidadãos privados benfeitores (mesmo os com as credenciais de defensores da humanidade) resultando em ‘Civil War’, os irmãos Russo fizeram os filmes do Capitão América em partes iguais como blockbusters e comentários sociais em assuntos atuais. 

Expandindo o Universo do Capitão América

Conversando com Kevin Feige, presidente da Marvel Studios, antes de nossa entrevista com o Falcão e o Soldado Invernal, ficamos felizes em descobrir que a série iria continuar com o mesmo tom dado nas grandes telas por Anthony e Joe Russo.

Falando com a August Man durante uma coletiva de imprensa do Disney+, Feige disse, “Por décadas, os quadrinhos da Marvel tem sido uma reflexão do mundo do lado de fora da sua janela.”

De certo, enquanto o mundo começa a se recuperar de uma pandemia, há uma analogia similar à experiência na conclusão de ‘Endgame’: o Capitão América não entregou somente seu escudo de Vibranium para Sam “Falcão” Wilson (Anthony Mackie), ele também entregou um manto de responsabilidade e segurança com um mundo que viveu uma sombra de cinco anos quando metade de sua população foi removida da existência.

O mundo que Bucky Barnes (Sebastian Stan) e Wilson se encontram jurando proteger talvez não encontre sua solução no poder de armas e punhos.

Através de percepção sutil, os filmes do Capitão América costumam fazer perguntas políticas complexas, então perguntamos ao Feige se uma série de TV com os compatriotas próximos do Capitão exploraria os tópicos de serviço patriota e sua colisão com os normais democráticos no despertar da rebelião no Capitólio em Washington, D.C., e o presidente da Marvel respondeu, “Sim, eles vão. Uma grande parte da série é sobre o Falcão e o Soldado Invernal, mas sobre o que significa para Sam Wilson ser um estadunidense negro. Há um paralelo com o mundo em que vivemos hoje.”

O peso do escudo

De acordo com Mackie, que interpreta o Falcão desde sua estreia em ‘Captain America: The Winter Soldier’, a hesitação de Sam foi instantemente compreensível. “Sam considera o escudo como uma representação do mundo em que vivemos. Há muita trepidação sobre como um homem negro representa um país que não o representa?”

“Quando você pensa no Capitão América, você pensa num tipo muito específico de pessoa,” Mackie continua. “E há tantas linhas, tantas avenidas diferentes, tantas realidades que temos que viver todos os dias para ser um homem negro de sucesso em nossa sociedade. Às vezes é apenas muito difícil lidar com todos esses cortejos para o sucesso. Você não pode ser a mesma pessoa em todas as salas que entra porque toda pessoa que você conhece espera uma pessoa diferente.”

Stan tem suas próprias opiniões no assunto. “Eu acho que o problema para o Bucky agora é sobre quem vai ocupar o lugar e preencher o legado que o Cap deixou para trás. Eu acho que o Sam definitivamente luta com isso também. Ambos,  eles querendo ou não, estão na sombra do que o ‘Capitão América’ significa. E eu acho que na mente do Bucky, Sam é o próximo cara – é ele quem foi escolhido, era esse o desejo do Steve. Bucky quer que isso seja seguido – e se tem qualquer dúvida na mente do Sam, isso é imediatamente um conflito para o Bucky. Ele ainda é muito protetor do Steve e seu legado”.

É com essa perspectiva que me encontro discutindo conceitos mais presos a terra com quem considero os super heróis mais pé no chão (além do braço biônico e asas voadoras) do super esquadrão que chamamos de Vingadores.

Em ‘Endgame’ vemos o Capitão América entregando o escudo para você, você está treinando para ficar tão forte quanto o Chris Evans?

ANTHONY MACKIE: Bem… eu não considero um homem com uma cintura de 70cm forte [ri]. Sam Wilson eventualmente devolve o escudo para o exército, e é por isso que se chama ‘Falcão e O Soldado Invernal’. É mais sobre esses dois personagens após o blip, tentando encontrar seu caminho na sociedade. 

Essa é uma pergunta para os dois: não temos uma dupla buddy-cop há algum tempo, vocês são a Máquina Mortífera dessa geração?

ANTHONY: Nós estamos falando isso! Eu não sei quem é Mel Gibson ou Danny Glover, mas definitivamente somos Máquina Mortífera. Espera… acho que somos mais Bad Boys

SEBASTIAN STAN: Eu definitivamente gosto mais da analogia Bad Boys

ANTHONY: É… acho que somos mais Bad Boys. Máquina Mortífera foi uma ótima franquia, mas se pudéssemos ter suas histórias com a cinematografia de Bad Boys, isso seria bem sexy. 

Vocês dois são machos alfa fortes nesse ambiente de consciência, vocês sentem como se tivesse uma responsabilidade adicionada para ser um exemplo para caras crescendo e assistindo vocês, talvez pegando dicas com vocês?

SEBASTIAN: Eu acho que os personagens da Marvel tem muitos fãs e há uma responsabilidade adicionada não importa como você se sente. Pessoas estão assistindo e você quer que seja honesto, com personagens honestos e acho que fizemos isso bem até agora. Somos tão honestos quanto esses personagens podem ser de acordo com suas circunstâncias e acho que essa série faz ainda mais disso. Não acho que alguém estava segurando os socos nessa série. Nós damos pra você de forma direta e criamos um mundo que você pode se relacionar e entender por causa do que vê nas notícias, especialmente nesse último ano, então sim, traz uma consciência muito necessária. 

Os Estados Unidos estão prontos para um Capitão América negro?

ANTHONY: Acho que qualquer hora que você interpreta um personagem de uma minoria, você ameaça o status quo. Então a ideia de ter um Capitão América negro é uma resposta ao racismo e ao machismo do nosso passado que alguns estão tentando manter mas estão começando a reconhecer que não é mais permitido nesse país. Isso precisa acontecer para que possamos ser pessoas melhores. 

Vocês são mortais, ao contrário de super humanos melhorados, quais aspectos dos personagens vocês estavam animados para explorar?

SEBASTIAN: Bucky sempre foi muito sério. Eu espero que tenha conseguido balancear o senso de humor com a profundidade do personagem porque não pude fazer muito disso nos filmes. 

Anthony, você é conhecido por seus papéis sérios em Adjustment Bureau, quem é o talento comediante e quem é o talento sério nessa série?

ANTHONY: Não acho que temos um cara sério e não acho que temos um comediante nessa. Eu acho que o que é ótimo sobre o Sebastian e eu é o que trazemos para a mesa. Nos complementamos muito bem e não é sobre tentarmos ser engraçados. É só nós dois juntos e é engraçado porque somos opostos um do outro. Somos personalidades tão distintas que é ridículo nos ver juntos. Não há razão para que não estejamos juntos. 

Falando sobre não existir razão para não estarem juntos, vocês saíam para tomar cerveja depois das gravações? Vocês são melhores amigos agora?

ANTHONY: Sim, quando o Sebastian não tá seguindo sua dieta! [ri]

SEBASTIAN: [toca a abertura de Beverly Hills Cop no celular dele] Precisamos refazer esse!

ANTHONY: [ri] Eu digo façamos Miami Vice. Isso seria a melhor coisa. 

Sebastian, todo mundo no twitter está dizendo que você é certeiro para um jovem Mark Hamill. Agora que Luke Skywalker teve uma aparição em The Mandalorian, você vai se juntar a outra série do Disney+?

SEBASTIAN: Sabe, eu apenas estou tentando passar por uma série do Disney+. É muito gentil que os fãs e o Mark pensem em mim.

O Falcão nunca vacilou, ele sempre tem sido exemplar, escolhendo a coisa certa, e estando do lado certo do bem. Como essa série vai moldar nossa opinião do personagem?

ANTHONY: Com a série e Sam Wilson, é sobre se ajustar para a vida após o blip e o novo normal. Vai ser bem parecido conosco nos ajustando depois da Covid quando estivermos todos vacinados, e qual será o nosso novo normal? Com o Sam, você verá seu crescimento e com isso, a ligação do público com ele. Você realmente verá o que o faz funcionar. Ele é um cara comum que foi jogado em circunstâncias incomuns.   

No despertar da rebelião no Capitólio, vocês, cavalheiros, têm algum conselho para alguém esperando para fazer a coisa certa nesses tempos difíceis?

SEBASTIAN: [longa pausa] Bem…

ANTHONY: [interrompe] Seja honesto consigo mesmo. A realidade é: você sabe o que é bom, você sabe o que é ruim, você sabe o que é certo e o que está errado. Não dê ouvidos a mais ninguém, se você olhar para a situação e sabe, dentro de você, que é a coisa certa a se fazer, faça. Porque ninguém pode questionar o que está dentro de você. 

SEBASTIAN: Com isto dito, eu acho que testemunhamos vários exemplos de pessoas achando que estão fazendo a coisa certa quando na verdade estão fazendo a pior coisa possível.

ANTHONY: [ri] Eles definitivamente não acham que estavam fazendo a coisa certa agora!

SEBASTIAN: Infelizmente, não. Eu diria – verifique você mesmo! Olhe no espelho e se pergunte: Quem você é, qual o negócio, sobre o que você é e o que você vai colocar para frente no mundo porque o tempo está passando e a vida é curta.